Em meados do século XVII, o café passou a se destacar como bebida de luxo, muito apreciado na França. Os grandes centros produtores da época eram, assim, as colônias francesas do Haiti e da Guiana, por onde o café teria adentrado em território brasileiro. Diz a lenda que, com o intuito de participar do mercado do café, o governador do Maranhão e Grão-Pará teria enviado o militar luso-brasileiro Francisco de Mello Paleta à Guiana para que ele trouxesse mudas da cultura. Sob o pretexto de mediação das fronteiras brasileiras, Paleta partiu em sua missão. Na Guiana Francesa, a estratégia utilizada pelo militar para conseguir tais mudas foi dispor de seu charme para seduzir a Primeira Dama do país. Cumpriu sua missão com bastante êxito e retornou ao Brasil com os primeiros exemplares clandestinos de café que seriam ali cultivados. O clima brasileiro e o vasto território contribuíram para a ampla propagação do café, que logo se tornou o principal produto de exportação do país.
A forte demanda do mercado internacional direcionou o cultivo para o oeste paulista. Desse modo, a província de São Paulo se afirmou como o grande centro produtor, e o porto de Santos, como o principal do país. O advento do café traria ainda novos desafios a ainda recente nação: era necessário um desenvolvimento conjunto dos sistemas de transporte e de comunicação. De todos os desafios, nenhum parecia pior do que vencer os cerca de 800 metros de parede íngreme, quase vertical, da Serra do Mar.
Coube à São Paulo Railway (SPR) a árdua tarefa de escoar a produção de Campinas e Ribeirão Preto para o litoral. Para isso, o ilustre Barão de Mauá recorreu a um dos maiores especialistas em ferrovias da época, o britânico James Brunlees. Foi montada, assim, uma vila de ferroviários, chamada de Alto da Serra, no topo da Serra do Mar, para facilitar a instalação do sistema que possibilitaria sua transposição.
Nessa mistura de moradia para trabalhadores ferroviários, elementos arquitetônicos ingleses e atmosfera sombria, surgiu a pitoresca vila de Paranapiacaba, novo nome da estação Alto da Serra. Paranapiacaba, em sua etimologia tupi, significa "lugar de onde se vê o mar". No entanto, a quase permanente neblina distancia o mar durante boa parte do ano. O visitante logo tem acesso a um mirante de onde pode se ver as cidades de Santos e Cubatão em dias limpos. Ao adentrar na vila, a cada esquina os nomes das ruas denunciam o passado inglês.
A vila foi estruturada sob uma rígida hierarquia: os engenheiros moravam em casas de alto padrão; os casados moravam em casas geminadas com maior número de cômodos; os solteiros dispunham das piores acomodações, com apenas um quarto, banheiro e cozinha para pequenas refeições. O engenheiro-chefe, por sua vez, instalava-se na mais notável moradia, o castelinho, construção central e imponente, que podia ser contemplada de todos os pontos da vila. O castelinho se demonstra, ainda, como um perfeito exemplo de panóptico: o chefe podia observar todo o trabalho dos operários, vigilando e controlando suas atividades. Nos fundos da vila, um campo de futebol é tido como o primeiro do Brasil. Ali que Charles Miller teria introduzido a prática do esporte, importado, diretamente, da Inglaterra.
Ainda hoje, a Serra do Mar intimida e desafia. Repleta de mistérios, Paranapiacaba é uma localidade sombria, misteriosa e exótica, mas também muito inspiradora. A vila operária tipicamente inglesa em plena Mata Atlântica, construída à luz da fervente Revolução Industrial, em um contexto de modernização do Brasil ainda tem muito a ser desvendada. É, sem dúvida, um lugar singular.
A forte demanda do mercado internacional direcionou o cultivo para o oeste paulista. Desse modo, a província de São Paulo se afirmou como o grande centro produtor, e o porto de Santos, como o principal do país. O advento do café traria ainda novos desafios a ainda recente nação: era necessário um desenvolvimento conjunto dos sistemas de transporte e de comunicação. De todos os desafios, nenhum parecia pior do que vencer os cerca de 800 metros de parede íngreme, quase vertical, da Serra do Mar.
"Aquela região não é favorável ao engenheiro. Deve haver regiões piores para estradas de ferro no mundo, mas não as conheço."
Rudyard Kippling, Cenas Brasileiras
Coube à São Paulo Railway (SPR) a árdua tarefa de escoar a produção de Campinas e Ribeirão Preto para o litoral. Para isso, o ilustre Barão de Mauá recorreu a um dos maiores especialistas em ferrovias da época, o britânico James Brunlees. Foi montada, assim, uma vila de ferroviários, chamada de Alto da Serra, no topo da Serra do Mar, para facilitar a instalação do sistema que possibilitaria sua transposição.
Nessa mistura de moradia para trabalhadores ferroviários, elementos arquitetônicos ingleses e atmosfera sombria, surgiu a pitoresca vila de Paranapiacaba, novo nome da estação Alto da Serra. Paranapiacaba, em sua etimologia tupi, significa "lugar de onde se vê o mar". No entanto, a quase permanente neblina distancia o mar durante boa parte do ano. O visitante logo tem acesso a um mirante de onde pode se ver as cidades de Santos e Cubatão em dias limpos. Ao adentrar na vila, a cada esquina os nomes das ruas denunciam o passado inglês.
A vila foi estruturada sob uma rígida hierarquia: os engenheiros moravam em casas de alto padrão; os casados moravam em casas geminadas com maior número de cômodos; os solteiros dispunham das piores acomodações, com apenas um quarto, banheiro e cozinha para pequenas refeições. O engenheiro-chefe, por sua vez, instalava-se na mais notável moradia, o castelinho, construção central e imponente, que podia ser contemplada de todos os pontos da vila. O castelinho se demonstra, ainda, como um perfeito exemplo de panóptico: o chefe podia observar todo o trabalho dos operários, vigilando e controlando suas atividades. Nos fundos da vila, um campo de futebol é tido como o primeiro do Brasil. Ali que Charles Miller teria introduzido a prática do esporte, importado, diretamente, da Inglaterra.
Ainda hoje, a Serra do Mar intimida e desafia. Repleta de mistérios, Paranapiacaba é uma localidade sombria, misteriosa e exótica, mas também muito inspiradora. A vila operária tipicamente inglesa em plena Mata Atlântica, construída à luz da fervente Revolução Industrial, em um contexto de modernização do Brasil ainda tem muito a ser desvendada. É, sem dúvida, um lugar singular.