O viajante é antes de tudo um colecionador de memórias. Mas memória não pode ser guardada. Ela se projeta no papel, em fotografias e experiências; repetimos o que dá certo e deixamos de fazer o que dá errado. Viajo porque preciso de novas experiências e escrevo porque minhas memórias transbordam no papel, onde deixam de ser abstratas e podem ser colecionadas. Escrevo porque sinto que preciso registrar minhas memórias, quando acho que algo precisa ser dito, quando ideias vêm a minha cabeça e não quero perdê-las.
Escrever é sobretudo o modo que encontro para colecionar minhas memórias. Também escrevo por prazer. Viajo por mais prazer ainda. Prazer: este não é um texto sobre memorar ou viajar, mas sobre ter prazer. Menciono a viagem porque tudo começa quando viajo. Menciono a escrita porque é como atribuo significado às memórias das minhas andanças. Mas não haveria nem viagem nem escrita sem o prazer.
Foi justamente viajando (ou como tudo começou) que conheci um lugar onde se vive por prazer. Lá qualquer habilidade, qualquer passatempo, vira meio de vida. Muitos vão de passagem, mas chegam e fazem dali seu lar. Não há salário, mas colaboração. Não há obrigação, mas gratidão. Não há serviço, mas comunhão. É o lugar dos desviantes, que sentem que seus valores não são os mesmos da sociedade em que vivem, mas que convergiram para um microuniverso onde suas utopias podem ser realidade.
Um senhor tenta relacionar padrões de arte rupestre com equações de ondas eletromagnéticas. Para estabelecer a ponte dessa relação ele transita por conceitos como Efeito Casemir e autovalores que não se entrelaçam. O que ele diz não é inteligível, mas é dito com muita fé. Ele acredita com tanta paixão em sua teoria que passo a acreditar nele. Vai que o louco sou eu? Talvez eu não acredite em Deus, mas sei que Deus acredita nesse velho sonhador.
No meio-fio de uma das ruas de pedras tortuosamente reunidas da pequena cidade uma mãe divide um baseado de maconha com a filha em plena luz do dia. Um outro senhor se apresenta como bruxo depois de uma conversa estranha e diz que irá me lançar um feitiço de oblívio para eu me esquecer do que ele disse. Outro me lança uma magia negra porque lhe recusei uma esmola. Uma legião troca algum ofício por abrigo. Um sujeito caminha todo dia 17 km da cidade até a fazenda onde trampa. Depois faz o caminho de volta, com a maior serenidade. Lá se viaja de carona sem temor. Dívidas não há, o que existe é troca de gentilezas. O favor não é uma penitência, não causa uma relação de obrigação entre as partes.
Guardo lembrança dos lugares por onde passei e das histórias que ouvi. Agrego estilo de vida dos hedonistas, dos loucos, dos outsiders. Levo a sensação de que o mundo é muito mais fascinante do que se pode registrar com palavras. Aprendo que produzir ideias pouco usuais pode ser um dos tantos caminhos criativos de se seguir na vida.
Foi justamente viajando (ou como tudo começou) que conheci um lugar onde se vive por prazer. Lá qualquer habilidade, qualquer passatempo, vira meio de vida. Muitos vão de passagem, mas chegam e fazem dali seu lar. Não há salário, mas colaboração. Não há obrigação, mas gratidão. Não há serviço, mas comunhão. É o lugar dos desviantes, que sentem que seus valores não são os mesmos da sociedade em que vivem, mas que convergiram para um microuniverso onde suas utopias podem ser realidade.
Um senhor tenta relacionar padrões de arte rupestre com equações de ondas eletromagnéticas. Para estabelecer a ponte dessa relação ele transita por conceitos como Efeito Casemir e autovalores que não se entrelaçam. O que ele diz não é inteligível, mas é dito com muita fé. Ele acredita com tanta paixão em sua teoria que passo a acreditar nele. Vai que o louco sou eu? Talvez eu não acredite em Deus, mas sei que Deus acredita nesse velho sonhador.
No meio-fio de uma das ruas de pedras tortuosamente reunidas da pequena cidade uma mãe divide um baseado de maconha com a filha em plena luz do dia. Um outro senhor se apresenta como bruxo depois de uma conversa estranha e diz que irá me lançar um feitiço de oblívio para eu me esquecer do que ele disse. Outro me lança uma magia negra porque lhe recusei uma esmola. Uma legião troca algum ofício por abrigo. Um sujeito caminha todo dia 17 km da cidade até a fazenda onde trampa. Depois faz o caminho de volta, com a maior serenidade. Lá se viaja de carona sem temor. Dívidas não há, o que existe é troca de gentilezas. O favor não é uma penitência, não causa uma relação de obrigação entre as partes.
Guardo lembrança dos lugares por onde passei e das histórias que ouvi. Agrego estilo de vida dos hedonistas, dos loucos, dos outsiders. Levo a sensação de que o mundo é muito mais fascinante do que se pode registrar com palavras. Aprendo que produzir ideias pouco usuais pode ser um dos tantos caminhos criativos de se seguir na vida.