O Copan é um edifício que, de tão grande, tem um CEP próprio e população maior do que 457 municípios brasileiros. É um perfeito arquétipo para São Paulo, uma teia muito complexa para se entender, mas tentamos: no meio do centro velho - em plena Avenida Ipiranga -, onde residem os elementos que a sociedade tenta esconder, se faz beleza nas duras esquinas de concreto. Quando encarada frente a frente, São Paulo encanta, surpreende, com um improvável prédio em formato de ‘S’ em meio a uma malha urbana cartesiana e cinzenta. Como pode uma multidão caber dentro de um único prédio? Aqui as coisas simplesmente cabem.
Do alto do Copan, enquanto observava a magnitude do que é São Paulo, vi que muitas paixões cabem dentro de um único quartinho. Passei uma noite no 23º andar do Bloco B e me veio a resposta do porquê de eu ter escolhido São Paulo como meu novo lar. Aqui viajamos sem sair dos limites da cidade. Não me sinto estrangeiro, mesmo não sendo paulistano. Talvez, pela primeira vez, tive a sensação de pertencer a um lugar específico. De certa maneira, vejo parte da minha infância e adolescência como uma contagem regressiva até o dia em que me mudei para cá. Todo mundo está vindo de algum lugar, correndo atrás de um sonho e disposto a defender a vida que a cidade nos oferece.
O Copan surgiu de um sonho comunista de Oscar Niemeyer. O arquiteto projetou uma habitação social, com opções de comércio, serviços e lazer, onde todas as classes sociais poderiam coexistir. Espalhados por seis blocos, os apartamentos vão desde pequenas kitnets a amplos espaços de 200 m². A galeria no andar térreo é uma gentileza urbana; são vias que se fundem à rua e acolhem o homem comum, trazendo-o para si, como veias que trazem o sangue para o coração. Se São Paulo é o corpo, o Copan é um coração pulsante.
No passado, São Paulo, a capital da solidão, era uma terra de aventureiros. Pobre e isolada, reunia indígenas, jesuítas eruditos e europeus desolados. Estar ali significava ter vencido a impressionante Serra do Mar, que, entre Santos e São Paulo, revela-se na forma de um grande paredão escarpado. No planalto paulista acontecia a experiência mais autêntica possível de Brasil na época, onde portugueses viviam como índios, e seus filhos iriam explorar as entranhas desse país. São Paulo desde então virou uma terra dos sonhos, de natureza sofrida, lugar de quem quer construir, com o próprio suor, a riqueza que não lhe foi concedida pela natureza.
Durante a noite no Copan, observava cada ponto de luz na cidade tentando dimensionar a quantidade de relações e interações possíveis entre cada pessoa. Era um número impossível de ser processado por qualquer cérebro humano. O interfone de meu apartamento tocou e saí pelo prédio para buscar o jantar que havia pedido por delivery. A caminhada pelos corredores estava tão longa que pude reparar que, provavelmente, mesmo que eu morasse a vida inteira no Copan, jamais seria possível conhecer todos os meus vizinhos distribuídos em 1160 apartamentos. Em cada um dos apartamentos existe uma infinidade de possíveis afetos, gostos, histórias de vida e narrativas que jamais conhecerei. Diante de minha pequenez como indivíduo nesse emaranhado de gente, nessa infindável selva de pedra num ponto do planeta, relaxei minha mente. Experimentei, então, o mais incrível tipo de libertação que podia viver naquele momento: em lugares como esse, ninguém toma conta da vida de ninguém. Aqui eu posso ser o que eu quiser ser.
Do alto do Copan, enquanto observava a magnitude do que é São Paulo, vi que muitas paixões cabem dentro de um único quartinho. Passei uma noite no 23º andar do Bloco B e me veio a resposta do porquê de eu ter escolhido São Paulo como meu novo lar. Aqui viajamos sem sair dos limites da cidade. Não me sinto estrangeiro, mesmo não sendo paulistano. Talvez, pela primeira vez, tive a sensação de pertencer a um lugar específico. De certa maneira, vejo parte da minha infância e adolescência como uma contagem regressiva até o dia em que me mudei para cá. Todo mundo está vindo de algum lugar, correndo atrás de um sonho e disposto a defender a vida que a cidade nos oferece.
O Copan surgiu de um sonho comunista de Oscar Niemeyer. O arquiteto projetou uma habitação social, com opções de comércio, serviços e lazer, onde todas as classes sociais poderiam coexistir. Espalhados por seis blocos, os apartamentos vão desde pequenas kitnets a amplos espaços de 200 m². A galeria no andar térreo é uma gentileza urbana; são vias que se fundem à rua e acolhem o homem comum, trazendo-o para si, como veias que trazem o sangue para o coração. Se São Paulo é o corpo, o Copan é um coração pulsante.
No passado, São Paulo, a capital da solidão, era uma terra de aventureiros. Pobre e isolada, reunia indígenas, jesuítas eruditos e europeus desolados. Estar ali significava ter vencido a impressionante Serra do Mar, que, entre Santos e São Paulo, revela-se na forma de um grande paredão escarpado. No planalto paulista acontecia a experiência mais autêntica possível de Brasil na época, onde portugueses viviam como índios, e seus filhos iriam explorar as entranhas desse país. São Paulo desde então virou uma terra dos sonhos, de natureza sofrida, lugar de quem quer construir, com o próprio suor, a riqueza que não lhe foi concedida pela natureza.
Durante a noite no Copan, observava cada ponto de luz na cidade tentando dimensionar a quantidade de relações e interações possíveis entre cada pessoa. Era um número impossível de ser processado por qualquer cérebro humano. O interfone de meu apartamento tocou e saí pelo prédio para buscar o jantar que havia pedido por delivery. A caminhada pelos corredores estava tão longa que pude reparar que, provavelmente, mesmo que eu morasse a vida inteira no Copan, jamais seria possível conhecer todos os meus vizinhos distribuídos em 1160 apartamentos. Em cada um dos apartamentos existe uma infinidade de possíveis afetos, gostos, histórias de vida e narrativas que jamais conhecerei. Diante de minha pequenez como indivíduo nesse emaranhado de gente, nessa infindável selva de pedra num ponto do planeta, relaxei minha mente. Experimentei, então, o mais incrível tipo de libertação que podia viver naquele momento: em lugares como esse, ninguém toma conta da vida de ninguém. Aqui eu posso ser o que eu quiser ser.