sábado, 21 de junho de 2014

Bairrismo


Em tempos de Copa do Mundo, andei lendo, inclusive, que futebol não é nacionalismo. Como não? Para mim, torcer para um time faz parte do pacote de valores culturais que assimilamos ao nascermos. A composição de nossa identidade também envolve a instituição do esporte - e em relação ao esporte, nenhum outro supera o futebol como símbolo de unidade nacional. Em um processo tão natural quanto nascer, passamos a pertencer a uma entidade maior, identificamos aliados e rivais, nos unimos nas adversidades, vibramos na vitória e sofremos na derrota. 

Sou carioca de Laranjeiras e torço pelo Fluminense. Nunca consegui diferir bairrismo de clubismo. Na minha cabeça, todos que nascem em Laranjeiras deveriam ser tricolores. Não me lembro como comecei a torcer pelo clube, foi um processo muito espontâneo. Segundo Nelson Rodrigues, o Fluminense escolhe os melhores dentre os seres humanos. Quem sabe? Quando me vi, já era totalmente simpatizado com as cores do clube e adorava desenhar em meu caderninho os gols de Romário. Em uma família boleira e com tradição flamenguista, tornei-me a ovelha negra. A tese que defendo é de que sou tricolor por puro bairrismo.

No estádio das Laranjeiras sempre encontrei conforto. De suas arquibancadas, a imagem que vejo do Cristo Redentor, entre uma montanha e outra, é a mesma que vejo da janela do meu apartamento. Longe de casa, não há raiz mais fácil de se transportar do que a paixão pelo time. Onde quer que eu esteja, quando visto a camisa do Fluminense, imediatamente me remeto a meu local de origem, às minhas desventuras pelo meu bairro. Lembro-me das alegrias e tristezas que o Tricolor das Laranjeiras já me causou e sempre continuará causando, independentemente do espaço físico que eu esteja ocupando. Lembro-me dos paralelepípedos de minha rua e das pessoas com quem eu conversava no caminho. Muitas conversas, inclusive, eram baseadas no desempenho do tricolor na rodada anterior; era entrar no elevador, encontrar um vizinho e, antes de qualquer cerimônia, trocar falas do tipo "e o nosso Fluminense?".

Em minhas apresentações, nada consegue abranger mais aspectos de minha personalidade do que o time para que torço.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário