A vista de dentro
Na estrada estamos em constante contato com um dos melhores prazeres da vida: a paz e o silêncio de nossa própria consciência. Divertimos-nos com o mundo e com os pneus dos carros girando, com as árvores passando depressa, com a cor do céu mudando, assim como os sons da rua ou de nossos fones de ouvido. Não temos pressa, ocupamos nosso tempo pensando no quão fascinante é se deslocar por terra; ter uma passagem e apenas ir. Observamos todas as formas de vida que surgem e somem deixando apenas uma primeira impressão. O tempo e o espaço se demonstram relativos: os carros em sentido oposto passam como relâmpagos, enquanto que, em nossa direção, ultrapassamos e somos ultrapassados quase que sem perceber.
No Nepal, pegar a estrada é uma experiência singular. O país é pequeno e as distâncias são curtas. No entanto, a geografia montanhosa, somada a intensa atividade rural no interior, tornam as velocidades médias baixas e as viagens longas. Aos pés do Himalaia, as estradas são sinuosas, estreitas e andamos por dentro das nuvens, em longos trechos de neblina. Uma viagem de 160 km pode durar cerca de 6h. As vidas rural e urbana são muito próximas, de modo que as rodovias desempenham um papel importante na vida dos nepaleses, que têm suas atividades adequadas à beira da estrada.
Para dirigir aqui é necessário muita perícia e coragem. As vias são apertadas e em diversos pontos não há espaço sequer para dois carros. Desvios para um acostamento arenoso e pedregoso são frequentes e necessários. Subimos e descemos montanhas beirando precipícios, protegidos apenas por pequenas pedras que funcionam como guias protetoras e que, contudo, não nos oferecem muita segurança. Além disso, em plena rodovia nacional, o trânsito é compartilhado por crianças disciplinadamente uniformizadas caminhando para a escola, agricultores carregando sua colheita como podem, pastores guiando seu rebanho, famílias inteiras sendo carregadas em uma moto, filas de caminhoneiros cruzando o país, ciclistas indo de uma vila a outra, pescadores vendendo sua pesca.
Os rios vindos do Himalaia mostram os caminhos de menor declive pelas montanhas, e a estrada segue o curso das águas. A natureza surge nas mais variadas e belas formas. As montanhas vão tocando o céu, enquanto árvores nos afunilam em verdadeiros túneis naturais. Picos nevados aparecem aos poucos e timidamente. Crianças passam com seus igualmente juvenis cabritos, e a mãe galinha protege seus pintinhos sob suas asas. Até o que não tem vida passa a ter: caminhões coloridos trazem um revigorante ânimo às estradas. Fantasiam-se com símbolos e deuses hinduístas; são atrações à parte. Amontoam-se em postos de venda de enfeites e se vestem como se fossem para um encontro romântico.
Nesse fervedouro de cores e vida, o tempo para. A frase mais comum nos para-choques dos caminhões é "Slow drive, long life". Nenhuma outra poderia ser mais adequada. Anda-se devagar, mas sem se adiantar à ordem natural, ao tempo da natureza. As rodovias do Nepal têm vida própria e sempre nos convidam, com um imenso sorriso, a fazer parte de seu organismo. Não por acaso, os nepaleses são exemplos de simpatia, paciência e gentileza. Não tenhamos pressa. Por que não fazemos na estrada?
No Nepal, pegar a estrada é uma experiência singular. O país é pequeno e as distâncias são curtas. No entanto, a geografia montanhosa, somada a intensa atividade rural no interior, tornam as velocidades médias baixas e as viagens longas. Aos pés do Himalaia, as estradas são sinuosas, estreitas e andamos por dentro das nuvens, em longos trechos de neblina. Uma viagem de 160 km pode durar cerca de 6h. As vidas rural e urbana são muito próximas, de modo que as rodovias desempenham um papel importante na vida dos nepaleses, que têm suas atividades adequadas à beira da estrada.
Para dirigir aqui é necessário muita perícia e coragem. As vias são apertadas e em diversos pontos não há espaço sequer para dois carros. Desvios para um acostamento arenoso e pedregoso são frequentes e necessários. Subimos e descemos montanhas beirando precipícios, protegidos apenas por pequenas pedras que funcionam como guias protetoras e que, contudo, não nos oferecem muita segurança. Além disso, em plena rodovia nacional, o trânsito é compartilhado por crianças disciplinadamente uniformizadas caminhando para a escola, agricultores carregando sua colheita como podem, pastores guiando seu rebanho, famílias inteiras sendo carregadas em uma moto, filas de caminhoneiros cruzando o país, ciclistas indo de uma vila a outra, pescadores vendendo sua pesca.
Os rios vindos do Himalaia mostram os caminhos de menor declive pelas montanhas, e a estrada segue o curso das águas. A natureza surge nas mais variadas e belas formas. As montanhas vão tocando o céu, enquanto árvores nos afunilam em verdadeiros túneis naturais. Picos nevados aparecem aos poucos e timidamente. Crianças passam com seus igualmente juvenis cabritos, e a mãe galinha protege seus pintinhos sob suas asas. Até o que não tem vida passa a ter: caminhões coloridos trazem um revigorante ânimo às estradas. Fantasiam-se com símbolos e deuses hinduístas; são atrações à parte. Amontoam-se em postos de venda de enfeites e se vestem como se fossem para um encontro romântico.
Nesse fervedouro de cores e vida, o tempo para. A frase mais comum nos para-choques dos caminhões é "Slow drive, long life". Nenhuma outra poderia ser mais adequada. Anda-se devagar, mas sem se adiantar à ordem natural, ao tempo da natureza. As rodovias do Nepal têm vida própria e sempre nos convidam, com um imenso sorriso, a fazer parte de seu organismo. Não por acaso, os nepaleses são exemplos de simpatia, paciência e gentileza. Não tenhamos pressa. Por que não fazemos na estrada?