domingo, 27 de dezembro de 2020

A Rota da Luz em uma bicicleta

"O barco está mais seguro quando está no porto; mas não foi para isto que foram construídos os barcos"
Paulo Coelho 

Uma forte tempestade na véspera me fazia colocar em dúvida se a viagem de bicicleta, que eu há tanto tempo planejara, tornar-se-ia realidade na manhã seguinte. A pergunta "e se a quantidade de lama tornar o caminho intransitável para minha bicicleta?" se juntava a muitas outras que eu há meses me fazia. Como reparar minha bicicleta caso ela quebrasse? Quais ferramentas levar? Quais equipamentos? Deveria levar um par de pedais a mais? Teria eu condições físicas para percorrer a Rota da Luz?

A Rota da Luz é um caminho alternativo que liga a Grande São Paulo ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, evitando os perigos da Rodovia Presidente Dutra. Em seus mais de 200 km de extensão, desde Mogi das Cruzes até Aparecida, o caminho cruza um total de nove cidades, incluindo ainda Guararema, Santa Branca, Paraibuna, Redenção da Serra, Taubaté, Pindamonhangaba e Roseira. Tratando-se de um caminho entre a região mais populosa do Brasil e o maior templo católico do mundo fora do Vaticano, esta é uma das mais emblemáticas rotas de peregrinação do Brasil, e motivo de minha nova aventura.

Há algo entre os peregrinos que sempre me encantou. Eles compartilham um tipo de amor movido por fé que só eles parecem sentir. Eles perseguem a felicidade grandiosa, excitante, distante, longe da vida ordinária. Sem praticar nenhuma religião, queria ter meu coração tocado por aquilo que tocou o coração de Bach quando ele compôs a Paixão Segundo São Mateus, ou aquilo que tocou o coração de Michelangelo quando ele pintou os tetos da Capela Sistina. O que toca o coração de um pagador de promessas, que atribui a realização de seus desejos mais profundos a uma divindade e, como forma de agradecimento, parte, muitas vezes sem preparo ou recursos, para uma exaustiva romaria? Estava disposto a eu mesmo me tornar um peregrino.

Em uma rota de peregrinação, e na própria vida, a sabedoria só tem valor se puder ajudar o homem a vencer algum obstáculo. Eu me preparava para a viagem, estudando o roteiro, mecânica e reparos básicos de bicicleta, comprava roupas adequadas, alforje, ferramentas, lia relatos. Imaginava todas as situações que podiam dar errado e buscava me preparar para elas. Sabia bem as distâncias entre cidades (qualquer problema, todos os caminhos levam a São Paulo). Contra o que não havia muita prevenção, deixaria por conta da incansável fé. Haveria de encontrar pessoas no caminho, não estaria sozinho, haveria de ter medida para tudo.

Dom Quixote pensou por quatro dias em que nome daria ao seu cavalo Rocinante, tamanha a importância de um cavalo para um cavaleiro. Meu veículo estava escolhido, mas, diferentemente do Rocinante, nunca fora batizado. A jornada seria em uma bicicleta Caloi 400 de 21 velocidades e quadro de alumínio. Pendurei uma bolsa no guidão, no bagageiro, um alforje. Embaixo do selim, coloquei  uma bolsa para ferramentas. Incluí um suporte para garrafas e luzes traseiras e dianteiras. Revesti a parte interna dos pneus com fita anti furo. Levei a bicicleta para revisão. Incluí na bagagem duas câmaras de ar reserva, chaves allen, chaves fixas, alicate, chaves de fenda, remendo, uma bomba de ar de mão e uma chave extratora de corrente. 

O percurso seria feito em três dias. No primeiro, pedalaria de Mogi das Cruzes até Paraibuna, totalizando 90 km. No segundo dia, de Paraibuna a Taubaté, 65 km. No último, restariam 50 km até Aparecida, para depois retornar para São Paulo de ônibus. A saída seria em um sábado dia 10 de outubro, e a chegada segunda-feira dia 12, a tempo de acompanhar os festejos do dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Seria também a minha primeira cicloviagem. Antes, eu já havia participado do Pedal Anchieta, a descida da rodovia Anchieta/Imigrantes entre São Paulo e Santos. Dessa vez, contudo, o desafio era um tanto maior. Não me preparei muito fisicamente. Nos dois fins de semana antes da partida, fiz duas longas pedaladas pela acidentada São Paulo, e senti que aguentaria chegar a Aparecida. Estava disposto a explorar e descobrir meus limites pedalando. 

A tempestade não dava sinais de que iria diminuir. Fui a uma farmácia, fiz as últimas compras da viagem. Fechei as malas, aprontei a bicicleta. Levei o mínimo possível: uma camiseta para cada dia, uma capa de chuva, bermuda de ciclismo, um pequeno kit de primeiros socorros. Celular estava carregado, bateria reserva também, os mapas baixados. Águas na geladeira, aguardando a hora de partir, comidinhas para a trilha guardadas. A viagem precisava acontecer, não contava com a possibilidade de adiamento. Entre trabalho e estudos, cada vez encontro menos tempo para fugas que, no fim, são o que me motivam a seguir realizando todas as minhas outras atividades. Estava decidido a acordar de madrugada e ir até a estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, ponto de partida da Rota da Luz. Lá eu decidiria se conseguiria prosseguir ou não. 

Estação da Luz, São Paulo

Acordei 5h da manhã. Para minha felicidade, a chuva cessara. Às 6h já estava na bela estação da Luz, em São Paulo, embarcando no trem para Mogi das Cruzes. Os vagões vazios permitiram acomodar confortavelmente a bicicleta. Quando cheguei em Mogi despertei a curiosidade de dois seguranças da estação, que me perguntavam sobre o caminho. Ofereceram um mapa da rota e indicaram onde havia o primeiro QR code da Rota da Luz - há vários no caminho, que podem ser escaneados com uma câmera de celular, e servem como atestado de conclusão da rota; um certificado pode ser retirado em Aparecida. Tomei um café da manhã reforçado por ali e comecei propriamente a trilha. Dali até o fim, não mais seria ameaçado pela chuva. Ela não apareceu mais.

A viagem começa como um agradável passeio. Saindo de Mogi, anda-se um bom trecho em asfalto, acompanhando uma antiga linha de trem, até a estação Sabaúna. De lá, predomina-se estrada de terra até a estação Luis Carlos, uma linda vila ferroviária revitalizada. O caminho mostrou-se muito bem sinalizado, e dispensei logo o uso de GPS. Timidamente, cruzava com alguns ciclistas no caminho e muito poucos caminhantes. Eu habituava meu corpo à jornada que me propus completar. A cada pedalada, observava o que acontecia com o meu corpo, como os músculos da minha coxa se contraíam e descontraíam, como minha respiração seguia o ritmo do pedal, como o suor escorria desde a minha testa e pingava sobre minhas pernas. Esse trecho é predominantemente descendente, entretanto, passando a estação Luis Carlos, havia a primeira longa subida, até o núcleo urbano de Guararema, que não consegui completar pedalando. Desci da bicicleta e terminei a ladeira puxando-a com as mãos, procedimento que se tornou essencial em muitas das subidas no trajeto.


Vila Ferroviária Luis Carlos, Guararema

A retidão é um ideal. Na natureza ela é improvável. O caminho o tempo todo se alterna entre descidas e subidas, em um equilíbrio perfeito. A descida é a recompensa da subida. A subida, a restauração da descida. A existência de uma justifica a outra. Sem a ladeira, não há conquista. Aguardar a próxima descida me fazia suportar as subidas. 

A motivação para seguir e completar o percurso não vinha apenas de meu interior. Habitantes das regiões por onde a rota passa criavam postos de acolhimento para os peregrinos, oferecendo água, café ou algum doce. Havia quem espontaneamente percorresse a rota com carro, oferecendo água e banana. Nunca vi tanta solidariedade entre os caminhantes, ou entre os caminhantes e a população local. Invariavelmente, um torcia pelo outro. Se eu passava por esses apoiadores sem reabastecer minha água ou pegar alguma comida, em todas as ocasiões tinha minha alma energizada com tantos incentivos e desejos para que eu completasse a rota em segurança. 

Não demorou até que eu pedalasse pelas margens do Rio Paraíba do Sul, o mais importante da história religiosa brasileira. Em 1717, durante uma pesca milagrosa em suas águas barrentas, apareceu a imagem de uma santa negra. Naquele ano, o Conde de Assumar havia sido nomeado governador da capitania de São Paulo e Minas do Ouro durante os prósperos anos da corrida do ouro. Chegou de Portugal e logo formou uma comitiva para uma longa jornada entre Santos e Vila Rica, atual Ouro Preto. Na sua passagem por Guaratinguetá, um banquete em sua homenagem foi organizado e diversos pescadores foram incumbidos de pescar a maior quantidade de peixes possível. Três deles - João Alves, Domingos Garcia e Felipe Pedroso -, ao lançar suas redes, pescaram a imagem enegrecida de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, depois rebatizada como Nossa Senhora Aparecida. Existem indícios de que os pescadores eram homens escravizados. Além do fato de, nessa época, a atividade de pesca ser realizada por escravos, três homens de nome João, Domingos e Felipe aparecem no testamento de um rico fazendeiro da região. A santa negra logo se ligaria à história da escravidão a partir do milagre envolvendo o escravo Zacarias: preso e acorrentado por seu feitor, pediu para rezar diante da imagem da santa de Aparecida. Autorizado, ao se ajoelhar, suas correntes desapareceram milagrosamente. Hoje, Nossa Senhora Aparecida é a padroeira do Brasil, país no mundo com maior população negra fora da África.       

O almoço do primeiro dia foi em Santa Branca, um lindo exemplar de uma cidadezinha interiorana, com uma igreja bem alta e uma pracinha com coreto. De Santa Branca a Paraibuna foram mais 36 km. Cheguei a Paraibuna já anoitecendo, após pedalar um total de 90 km, com altimetria acumulada de 1730 m. Nas ruas estreitas da cidade, enquanto procurava o hotel que eu já havia reservado, recebi novos incentivos e desejos de 'Deus abençoe'. Durante o trajeto, fiquei com a sensação de não ter encontrado muitos peregrinos, mas fui contrariado chegando a Paraibuna, para onde muitos convergem. Eu reparava em seus trajes e no que levavam. Fiquei especialmente fascinado com um solitário senhor de sandálias, mancando, portando apenas um cajado e uma pequena mochila. Quis saber qual a história por trás de um homem que faz o caminho daquele jeito.

Santa Branca

Curso do Rio Paraíba do Sul

Amanhecer em Paraibuna

Acordei bem cedo para o segundo dia. Não me sentia muito dolorido. Eu tinha massageado bastante minhas pernas antes de dormir. O que mais me doía era montar e desmontar da bicicleta. O melhor a se fazer era sentar, pedalar e continuar pedalando. No entanto, o trecho entre Paraibuna e Taubaté era o mais desafiador da viagem; muitas vezes precisei descer e carregar a bicicleta com as mãos. Nessas ocasiões, em vez de sentir dor nas pernas, sentia na lombar, por andar curvado, carregando o peso da bicicleta com a bagagem. Paraibuna está a 635 m acima do nível do mar, e Taubaté, a 580 m. Entre as duas cidades, já em Redenção da Serra, existe, todavia, um morro popularmente conhecido como "Morro do Batman", devido ao seu perfil altimétrico: é uma elevação sobressaliente, cujo cume (960 m) é composto por dois picos locais, como duas letras "V" invertidas lado a lado. A altimetria acumulada do dia seria de 2010 m.

De Paraibuna a Redenção da Serra o trajeto é uma subida progressiva, de ladeiras que parecem sem fim. Para conseguir completar o trecho em um dia sob a luz do sol, inevitavelmente chega-se ao Morro do Batman por volta das 12h, no sol mais forte do dia. O núcleo urbano de Redenção da Serra fica a um desvio da Rota da Luz, e decidi passar direto, já que, embora minha alma conservava-se pronta para a batalha seguinte, até ansiando por ela, meu corpo, após mais de 120 km, começava a fraquejar. Uns peregrinos no caminho haviam comentado sobre um restaurante no topo do morro, e decidi que almoçaria lá. Eu ansiava por completar o Morro do Batman como um faminto anseia por comida.

Comecei a subida, com serenidade, reconhecendo os limites de meu corpo e de minha bicicleta. Pedalava um pouco, caminhava um pouco, parava quando sentia fadiga. Comia uma barrinha de cereal, bebia água, ainda estava gelada. Peguei o meu celular e ia acompanhando o quanto faltava para concluir a subida. A ideia de saber que aquilo teria fim me ajudava a prosseguir. Meu corpo ia ficando cada vez mais cansado, a carga do primeiro dia chegara com atraso. Para expor diferentes partes do meu corpo à dor, eu também passei a variar o modo como eu carregava a bicicleta com a mão. Ora a punha do meu lado esquerda, ora do direito, ora em minha frente, empurrando-a pelo selim com as duas mãos. Importante para mim era não parar. 

Segui e passei pela primeira grande ladeira, um descampado de terra, de baixo do sol e sem sombras para me proteger. Em seguida havia outra imensa e íngreme subida pavimentada, dessa vez com mais sombras. Puxei um ar e fui. Já tinha subido uma boa parte do morro. Segundo o GPS, o fim parecia breve, ao passo que eu bebia água com frequência cada vez maior. Ainda havia subida no entanto. Por menor que fossem, eram, àquela altura, muito desgastantes. Em um determinado momento, quando buscava forças para seguir subindo, um senhor, na porteira de sua casa, na beirada da estrada, aguardava a passagem de peregrinos com um galão de água. Das minhas três garrafas, me restava um terço de uma. Aceitei a água do gentil senhor, que desceu com frescor e acolhimento emocionantes. A sede era tamanha, igual foi o prazer em satisfazê-la. O senhor disse que o fim da subida estava próximo, e logo seria apenas descida até Taubaté. Concluí a subida.

No topo do morro, realizei um verdadeiro banquete no restaurante da Dona Cida, famosa entre os que percorrem a Rota da Luz. Era um pequeno vilarejo, distante, perdido no topo da serra, pertencente ao município de Redenção. A simpática senhora servia feijoada à vontade. Sem cerimônia, convidava os recém chegados para montar o prato diretamente em seu fogão. Ali tive uma longa pausa para almoço, essencial para recuperar as energias da subida. Entre muita conversa, ela alertava para os perigos da descida do morro do Batman com tanta veemência, que passei a temer a descida que eu tanto aguardara. Ela repetia, como um mantra, "bicicleta não é fusca", "não pense que você está de fusca". Perguntava se eu havia encontrado peregrinos na subida, querendo saber se mantinha a comida aquecida. 

Dona Cida estava preocupada com a minha saída e começou a me apressar para que eu não chegasse de noite a Taubaté. Explicou que, antes da descida, havia ainda dois trechos de subida. A descida começava após uma curva, em um ponto culminante, com uma cruz de madeira. Naquele ponto, a analogia com o calvário de Cristo era  inevitável. A subida foi difícil, agora eu estava excitado com a descida. A matéria atrai a matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. Deixei-me ser levado pela gravidade morro abaixo, o vento tocando o rosto, as mãos firmes no freio. Antes de o sol se pôr, cheguei a Taubaté.

Peregrinos a caminho do Morro do Batman

Vilarejo em Redenção da Serra

Vista da represa do Rio Paraitinga

Início da subida do Morro do Batman

Chegada a Taubaté

O último dia, passada a tormenta, estava guardado para ser o mais tranquilo. Saí de Taubaté e segui por uma estrada rural até atravessar a Dutra. Ali, via um fluxo alto de peregrinos trafegando pelo acostamento da rodovia, e novamente alguns pontos de apoio. Sem entrar na rodovia, o caminho até Aparecida foi inteiramente no asfalto, relativamente plano. Pedalar novamente no asfalto, depois de tanta terra, trouxe um andamento melhor para a viagem. O corpo, é verdade, estava dolorido, mas ia bem. O problema agora era lidar com a inquietação da alma, que ansiava pela chegada, mas sabia que ainda havia 50 km a serem percorridos no dia. 

Como já estava em uma estrada secundária, placas de trânsito hora ou outra informavam o quanto faltava para chegar a Aparecida. Ia acompanhando, vislumbrando o momento da chegada. Quanto mais perto chegava, maior quantidade de peregrinos eu encontrava. Alguns paravam uma van na estrada e seguiam a pé, para ter a sensação de caminhar até a basílica. Cheguei à placa que marcava o limite entre Roseira e Aparecida. Sabia que estava perto, mas custava a chegar. Entrei na cidade, mas ainda não parecia perto da basílica. Estava diante de uma ladeira. Segui por ela com a minha bicicleta. Em um ponto suficientemente alto, avistei pela primeira vez o Santuário. Senti-me interiormente satisfeito por chegar àquele raro ideal das existências pálidas que move os peregrinos. Eu havia me tornado um, vivido como um.

Em Aparecida, senti uma vertigem por ver tanta gente depois de dias contemplativos pedalando em estradas desertas. Estava tonto e exausto. Pedindo informações, consegui chegar ao centro de apoio aos peregrinos. Fui muito bem recebido. Ofereceram água, disseram-me onde eu poderia tomar um banho. Recebi, finalmente, meu certificado de conclusão da Rota da Luz, talvez o certificado simbolicamente mais importante que eu já tenha recebido. No fim da tarde, embarquei em um ônibus de volta para São Paulo, refazendo em cerca de 3h, o caminho que eu levei três dias para percorrer em uma bicicleta.

Encontrei, nessa vida de peregrino, muita solidariedade e gratidão em meu caminho. O extraordinário está na história, fé e ambições espirituais de pessoas comuns, os peregrinos, não em rituais mágicos e misteriosos. Quem vai a Aparecida vai pela simplicidade de um agradecimento, por isso deixo aqui os meus: agradeço por ter saúde, a base de tudo, que me permitiu pedalar mais de 200 km em três dias, e completar a Rota da Luz em segurança; agradeço todas as pessoas que participaram de meu caminho, na andança, torcendo por mim, nos hotéis e restaurantes, oferecendo ajuda e fornecendo informações valiosas; agradeço todos os peregrinos desconhecidos que fizeram a rota antes de mim. Vocês descobriram e ajudaram a construir esse precioso caminho; por fim, agradeço a sorte de ter tempo, recursos e conhecimento à disposição para planejar e poder concretizar essa viagem. 


Chegada a Aparecida do Norte e fim da Rota da Luz

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